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Frans Krajcberg

Por Maria Emilia Alencar

Reportagem publicada em 10/03/2005 Última atualização 18/03/2005 19:29 TU

Krajcberg (à esquerda) e o compositor Pierre Barouh(Foto : DR)

Krajcberg (à esquerda) e o compositor Pierre Barouh
(Foto : DR)

Frans Krajcberg , escultor de origem polonesa, se exila no Brasil em 1948, traumatizado pela segunda guerra mundial. Naturalizado brasileiro, ele é hoje célebre por sua luta em defesa do meio ambiente. Ele tem um ateliê e um museu com nome em Paris.

A casa de Nova Viçosa
(Foto : DR)
À primeira vista, ele parece um lobo do mar, com seu boné de velho marujo, sua barba branca e seu ar solitário. Mas Frans Krajcberg é acima de tudo um homem da terra, uma espécie de mago da natureza, que consegue transformar troncos de árvores queimados em obras de arte. Aos 84 anos de idade, ele continua vivendo entre o Brasil e a França, o que faz há cinco décadas : em Nova Viçosa, no sul da Bahia, como uma espécie de Robinson Crusoé, em sua fantástica casa em cima de uma árvore e, em Paris, no seu ateliê no fundo de um pátio florido no bairro de Montparnasse, ao lado de seu pequeno museu chamado « Espaço Krajcberg ». E ele parece precisar dessas duas vidas : no sul da Bahia, ele recolhe nos cerrados e mangues os « restos mortais » da natureza que ele converte depois em esculturas monumentais ; em Paris, ele gosta de conversar sobre arte com velhos amigos e encontra uma tribuna internacional para seu combate incansável contra a destruição do meio ambiente.

« Sou um homem revoltado »

A eco-arte
((Foto : DR)
Frans Krajcberg gosta de dizer que foi salvo pela natureza. Ele voltou a se sentir livre em contato com a exuberância da mata brasileira que ele descobriu « fugindo dos homens » em 1948. Judeu polonês, nascido em Kozienice, ele foi oficial do exército da Polônia, durante a segunda guerra, entre 1941 e 1945, período em que perdeu toda a família nos campos de concentração nazistas. Engenheiro formado pela Universidade de Leningrado, ele se mudou para a Alemanha depois da guerra e ingressou na Academia de Belas Artes de Stuttgart onde foi aluno de Willy Baumeister. Mas a arte não foi suficiente para ele sublimar a sua revolta. Era preciso partir da Europa, escapar das lembranças da barba rie.

Ele emigrou para São Paulo, onde participou da Primeira Bienal Internacional de Arte Contemporânea, expondo duas pinturas e logo depois mudou-se para o Paraná trabalhando como engenheiro em uma fábrica de papel. Mas, a partir dos anos 50, arte e natureza se juntaram definitivamente para ele, como dois cipós entrelaçados. Ele abandonou o emprego, isolou-se nas matas paranaenses para pintar e assumiu seu destino de « intérprete da natureza ». Mas sempre fez questão de ser “um homem revoltado” e associou os horrores do nazismo à destruição do meio ambiente, para não esquecer que o ser humano é capaz do pior.

«O homem do verde »

Arvores calcinadas
(Foto : DR)
Foi como brasileiro, naturalizado desde 1957, que Frans Krajcberg sentiu nos últimos 40 anos a destruição da Mata Atlântica e de parte da Amazônia. Foi como brasileiro também que ele ganhou o prêmio de melhor pintor da Bienal de São Paulo em 1957. Ele se considera brasileiro e se irrita quando a imprensa o chama de « o polaco radicado no Brasil ». Krajcberg é mais do que um cidadão brasileiro, ele se tornou um ícone da consciência ecológica nacional, fotografando e documentando os desmatamentos em todo o país.

Entre uma e outra viagem de exploração na Amazônia ou no Pantanal, Krajcberg sempre retorna a seu ateliê de Paris, onde criou  nos anos 60 seus primeiros relevos com matérias orgânicas e seus murais com jogos de sombras. Nos anos 80, Paris foi para ele uma plataforma internacional para o combate batizado de eco-arte, reconhecido com a inauguração no ano passado do museu com seu nome, em Montparnasse. A partir de junho, os parisienses poderão ver suas esculturas monumentais no « Parc de Bagatelle ». Eles vão certamente entender porque o crítico de arte Pierre Restany dizia : « Krajcberg é o homem do verde  como Yves Klein é o homem do azul ».