Por Adriana Brandão
Reportagem publicada em 07/03/2005 Última atualização 01/04/2005 13:16 TU
Oficialmente, Maria Creuza de Souza tem 54 anos mas ela afirma ser dois anos mais nova. Como era costume na sua juventude num vilarejo às margens do rio Amazonas, sua idade foi aumentada para que ela pudesse se casar. Maria Creuza nasceu na ilha de Botija, que fica a três dias de barco rio acima de Manaus, numa família mista e numerosa. O pai caboclo era viúvo e tinha três filhos quando se casou com a mãe, também viúva e com sete filhos. Do novo casamento, nasceram mais três filhos. A ilha da Botija pertencia ao avô materno de Maria Creuza, de origem européia. Ele emigrou para o Brasil na virada do século vinte. Foi primeiro para o Ceará, onde conheceu a mulher também de origem européia, antes de se instalar na Amazônia na época do ciclo da borracha. Maria Creuza desconhece a origem exata dos avós maternos mas reivindica ser fruto dessa mestiçagem cabocla/nordestina/européia que ajudou a colonizar as regiões ribeirinhas do Amazonas.
Um imaginário formado pela mistura da cultura cabocla e européia.
"Um vasto horizonte imaginário" (Foto : Adriana Brandão/RFI) |
Escritora no estrangeiro
Como outros estudantes brasileiros que vêm estudar na França e decidem ficar por motivos pessoais ou profissionais, Maria Creuza acabou ficando em Paris, com os três filhos. Apenas com o visto de estudante, não conseguia trabalhar corretamente para sustentar a família e muito menos continuar os estudos. Em 1992, obteve finalmente um visto de residente. Trabalhou em instituições de prestígio, como a Ecole Normale Supérieure onde chegou a ensinar português para pesquisadores franceses, mas pôde principalmente retomar os estudos e concretizar um sonho antigo : escrever. Quase como uma antropóloga, Maria Creuza passou para o papel as estórias encantadas da Amazônia que ouvia na infância para divulgar «essa terra muito falada mas pouco conhecida». Uma iniciativa que não interessou muito os editores franceses. Depois de algumas recusas, Maria Creuza de Souza decidiu bancar ela mesma a publicação de seus livros. Criou uma empresa, a Jatyba Produção e Criação, e lançou até agora três livros, em francês : La Source de l'Amazone murmure le roman du soleil et de la lune; Contes de Nuit e Contes et légendes d'Amazonie. Todos são ilustrados pela paranaense Márica Széliga. Nenhum dos três livros foi lançado no Brasil mas ironicamente a escritora vende muito mais exemplares no Amazonas do que na França. Apesar de viver há quase de vinte anos em Paris e se sentir integrada, a escritora Maria Creuza de Souza pensa em trocar seu pequeno quarto e sala no décimo nono distrito de Paris pela imensidão da floresta amazonense que ainda alimenta seus sonhos e saudades.