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Segunda reportagem : o conflito

O difícil caminho em direção da paz já passou por guerras, atentados, acordos frustrados, mas continua aberto

Reportagem publicada em 14/05/2008 Última atualização 14/05/2008 19:48 TU

Israel gostaria que o muro que o separa da Cisjordânia fosse temporário. Por enquanto, a obra foi suspensa, o que não significa que ela  tenha terminado.  Foto: Elcio Ramalho/RFI

Israel gostaria que o muro que o separa da Cisjordânia fosse temporário. Por enquanto, a obra foi suspensa, o que não significa que ela tenha terminado.
Foto: Elcio Ramalho/RFI


Foi a Sociedade das Nações, entidade que precedeu a ONU, que em 1922 abriu o caminho para a instalação de um Estado judeu na Palestina. Na época, a região, ocupada essencialmente por árabes, era governada pelos britânicos que apoiavam a idéia pregada pelos sionistas de que a Terra Santa era dos judeus por razões históricas, milenares. A votação favorável por parte da comunidade internacional desencadeou imediatamente um imenso fluxo de imigrantes judeus, vindos na maioria da Europa oriental. As condições de recepção eram ainda precárias e o futuro Israel era apenas um projeto, mas os problemas de integração, entre a população que vivia ali e a população que chegava, vieram logo à tona.

As intifadas nos territórios palestinos transformam as ruas em área de combate: pedras contra tanques. Na foto, uma cena no campo de refugiados palestinos de Jabalia, na Faixa de Gaza, em 2004.  Foto: AFP

As intifadas nos territórios palestinos transformam as ruas em área de combate: pedras contra tanques. Na foto, uma cena no campo de refugiados palestinos de Jabalia, na Faixa de Gaza, em 2004.
Foto: AFP

Sessenta ano depois, as hostilidades continuam. O caminho iniciado pela Sociedade das Nações ficou pelo meio. O Estado de Israel foi realmente criado, em 14 de maio de 1948, mas o Estado Palestino, com seus dois territórios - a Faixa de Gaza e a Cisjordânia – não pôde até agora ser constituído. E, em falta de uma coexistência israelo-palestina surgiu um impasse perigoso, o da mútua eliminação.

O professor de história da Universidade de Tel Aviv, Gerardo Leibner, reconhece que desde o princípio as expectativas das duas partes eram diferentes. “Esta terra palestina não estava vazia como apresentava a propaganda do movimento sionista que dizia: um povo sem terra para uma terra sem povo. Aqui existia uma população árabe palestina que começa a ressentir-se com a chegada de novos imigrantes”, diz ele.

No final da Segunda Guerra Mundial, a luta pelo espaço palestino não tinha sido resolvida. Pressentindo a intensificação dos conflitos na região, os britânicos preferiram sair da Palestina e passaram a responsabilidade para a assembléia das Nações Unidas. Os horrores nazistas criaram o atalho oportuno para que os sionistas – que aspiravam a Terra Santa e um Estado nacional – avançassem a causa. A morte de milhões de judeus nos campos de concentração legitimou a criação de Israel. O novo país festejou o Dia da Independência que, para os árabes, se transformou em “naqba” ou seja o dia da catástrofe.

Ahmed Soboh, vice-ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, acha que a segurança deve ser resultado da paz.  Foto: Elcio Ramalho/RFI

Ahmed Soboh, vice-ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, acha que a segurança deve ser resultado da paz.
Foto: Elcio Ramalho/RFI

Inconformados, cinco países árabes – Egito, Líbano, Síria, Iraque e a então Transjordânia – declararam guerra contra os israelenses que, para surpresa geral, sairam vencedores. Mais uma vez, o caminho se bifurcou ampliando a discórdia. Situações como o êxodo dos árabes palestinos, que fugiram de suas cidades anexadas pela expansão de Israel, persistem até hoje. Hassan Chmare, um palestino de 85 anos, guarda há 54 anos a chave da casa onde morava, em Anab, no interior de Israel. “Tenho esperança de voltar”, diz ele. Essa possibilidade de regresso foi tentada através de muitas negociações, muitas mediações, de alguns acordos e por diversos líderes políticos que esbarraram num radicalismo cada vez mais profundo.

Abdelaziz Hassan Chmare mora no campo de refugiados palestinos de El Amari, na Cisjordânia, mas a velha chave é de sua casa em Anab, no interior da Israel.   Foto: Kharim Lebhour/RFI

Abdelaziz Hassan Chmare mora no campo de refugiados palestinos de El Amari, na Cisjordânia, mas a velha chave é de sua casa em Anab, no interior da Israel.
Foto: Kharim Lebhour/RFI

Em 2007, a Conferência de Annapolis, nos Estados Unidos, ressucitou esperanças que também não se concretizaram. As ofensivas armadas dos grupos – como o Hamas - que querem destruir Israel e as represálias do governo israelense prolongam um conflito sangrento. O símbolo mais significativo desse enfrentamento é o muro de concreto que separa atualmente a Cisjordânia de Israel. Um imponente obstáculo no difícil caminho da paz.

 

(Reportagem realizada pelo enviado especial da RFI, Elcio Ramalho)

 

AUDIO

“Israel declarou que o muro não tem que ser permanente. No momento em que haja paz podemos terminar com ele. É uma coisa física que conforme foi construída pode ser derrubada”. (Moska Hatzambri, porta-voz de Relações Internacionais do Partido Trabalhista israelense)

“A situação é muito propícia para o crescimento das partes extremistas, não só do Hamas e dos colonos da extrema-direita israelense, como de gente que não quer os palestinos nem na Cisjordânia nem em Israel. Se obtivermos uma paz séria com Israel não haverá razão de existência para o Hamas, nem aqui nem em outro lugar”. (Ahmed Soboh, vice-ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina)