Reportagem publicada em 16/05/2008 Última atualização 16/05/2008 18:43 TU
Os controles nas passagens entre Israel e os territórios palestinos dificultam o cotidiano da população e absorvem boa parte do orçamento.
Foto: Elcio Ramalho/RFI
Seis décadas depois de sua criação, Israel exibe uma economia em plena expansão que se destaca pelos investimentos e exportações de produtos de alta tecnologia mas que, por outro lado, enfrenta desafios cada vez maiores para conter o aumento da pobreza entre a população. A atividade econômica, que registrou crescimento de 4,8 por cento em 2007, continua em ritmo acelerado, com perspectiva de crescer entre 5 e 6 por cento este ano.
O país colhe os frutos de uma política baseada no investimento e apoio às chamadas start-ups, empresas de criação e desenvolvimento de produtos tecnológicos que atraem capital de risco externo. Depois de uma grave crise econômica nos anos 60 e diante da dificuldade em concorrer com a mão-de-obra barata dos países asiáticos, o governo israelense decidiu investir em produtos de alto valor agregado e para isso criou uma lei de pesquisa e desenvolvimento supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Atualmente, 4,8 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) são investidos no setor de pesquisa e desenvolvimento.
Outra decisão estratégica foi transferir para o setor civil, a tecnologia de ponta adquirida pela indústria bélica e militar. “As indústrias de defesa estavam muito desenvolvidas nos campos da eletrônica, comunicações, ótica e, numa visão estratégica, o governo imaginou que o futuro do país estaria na área de tecnologia de ponta”, explica Shmuel Yerushalmi, ex-pesquisador do Instituto Weismann e responsável, durante 17 anos, por várias incubadoras tecnológicas do país. Yerushalmi testemunhou uma verdadeira transformação paisagística na região metropolitana de Tel Aviv nos últimos 30 anos, com a instalação de diversos parques tecnológicos que concentram pequenas e médias empresas inovadores de produtos high tech.
A empresa Indigo HP, na pequena cidade de Kiriat-Gat, é um dos maiores exemplos do sucesso da transformação de pequenas idéias em gigantes do mercado. Criada em 1977 para desenvolver uma técnica de impressão digital com tecnologia mecânica, a empresa produziu tintas especiais e equipamentos que chamaram atenção de multinacionais. Em 2001 foi adquirida pela americana Hewlett-Packard por 700 milhões de dólares. “Vamos continuar investindo neste setor de alta tecnologia e aqui olhamos sempre para o que deve acontecer daqui 4 ou 5 anos”, afirma o gerente de produção, Zeev Fixler.
Pobreza
O sucesso das empresas e produtos de alta tecnologia, que já representam 46 por cento do total de exportações do país, contrasta com o índice crescente da pobreza que, segundo dados oficiais, atingem 25 por cento dos israelenses. Especialistas estimam que a situação é reflexo do aumento do número de trabalhadores sobrevivendo com empregos precários e cortes de programas sociais do governo, como a ajuda para famílias numerosas.
O presidente da Câmara do Comércio Israel – Brasil, Shmuel Yerushalmi, foi responsável pela formação de várias incubadoras tecnológicas na região de Tel Aviv.
Foto: Elcio Ramalho / RFI
Sinal mais evidente dessa decadência sócio-econômica é a proliferação de associações e entidades que oferecem serviços humanitários para a população carente, muito afetada também, segundo analistas, por leis, como a que vincula a ajuda social a serviços comunitários, criadas para compensar os investimentos cada vez maiores na área da Defesa. “A única forma de a economia israelense reduzir substancialmente a pobreza e melhorar os índices de educação é o fim do conflito israelo-palestino. Por que a área que mais exige do orçamento do governo é a de defesa e segurança, o que provoca uma desigualdade e discriminação por causa do permanente estado de conflito”, diz o economista Shir Hever.
Mercosul
Israel poderá ser o primeiro parceiro comercial do Mercosul fora da América do Sul. Um acordo de livre comércio foi assinado em 18 dezembro de 2007, no Uruguai, e entrará em vigor assim que for ratificado pelos quatro países que compõem o bloco econômico e pelo governo israelense. O acordo deverá incrementar um fluxo de negócios entre as economias do Brasil e de Israel que totalizaram 1 bilhão de dólares em 2007, sendo dois terços de exportações de empresas israelenses.
“O Brasil importa principalmente fosfato do Mar Morto que é utilizado na agricultura, para a melhoria do solo” diz Shmuel Yerushalmi, atual presidente da Câmara do Comércio e Indústria Israel-Brasil. Segundo ele, 180 empresas israelenses estão instaladas no Brasil nos mais diversos setores: na área agrícola, com fabricação de equipamentos de irrigação, mas também nos setores de defesa e informática. E o Brasil exporta principalmente commodities, produtos agrícolas como soja e também maquinários. “Assim que o acordo de livre comércio com o Mercosul estiver em funcionamento nosso comércio vai ser ainda maior porque o Brasil é uma prioridade estratégica para o governo de Israel”, concluiu Yerushalmi.
(Reportagem realizada pelo enviado especial da RFI, Elcio Ramalho)
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Presidente da Câmara de Comércio Israel-Brasil
“Nos primeiros vinte anos de Israel, desde 1948, toda a economia era baseada na agricultura, principalmente no cultivo de laranja, no processamento de alimentos e de materiais e nas indústrias clássicas – téxtil, metálica. O que aconteceu é que o governo tinha interesse em que a população se arraigasse bem aqui e em que as pessoas mantivessem seus postos de trabalho. Muitas indústrias que não eram economicamente viáveis foram subsidiadas pelo governo”.
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