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Literatura/França

"Maternidade naturalista" é nova forma de opressão, diz escritora

Reportagem publicada em 08/03/2010 Última atualização 08/03/2010  15:25 TU

A escritora e filósofa feminista francesa Elisabeth Badinter tenta alertar as mulheres para uma nova forma de opressão feminina: a maternidade naturalista.

A escritora e filósofa feminista francesa Elisabeth Badinter tenta alertar as mulheres para uma nova forma de opressão feminina: a maternidade naturalista.

É possível conciliar bem os papéis de mãe e de mulher na sociedade contemporânea ? Em seu novo livro Le Conflit, la Femme et la Mère (O Conflito, a Mulher e a Mãe, em tradução livre), a escritora e filósofa feminista francesa Elisabeth Badinter tenta alertar as mulheres para uma nova forma de opressão feminina: a maternidade naturalista, que vem se tornando bastante popular na Europa e também no Brasil.

Fraldas laváveis, cama compartilhada, parto normal sem anestesia, amamentação prolongada, retorno da mãe à vida doméstica são alguns dos alvos da autora.

Segundo ela, essa nova corrente vê na feminilidade um privilégio enorme cujo ápice seria a maternidade. Só a mãe seria capaz de responder às necessidades do bebê, só ela poderia conhecê-lo profundamente e ao pai caberia apenas apoiá-la nessa nova função, com um papel totalmente secundário.

O resultado disso é uma mulher sobrecarregada, sem vida social ou profissional e culpada por não poder dar toda a atenção que seu bebê demanda. O livro está dividindo a opinião pública francesa e tem deixado alguns especialistas furiosos. Elisabeth Badinter insiste que a pressão por uma maternidade o mais natural possível está dificultando a vida das mulheres.

"Nos últimos 30 anos, constatei que os deveres maternos estão cada vez mais difíceis, especialmente devido a um retorno ao naturalismo (…) Cada vez mais somos prisioneiras de um discurso moral, de um medo imposto e de uma angústia que é caracterizada pelo princípio extremo da precaução", diz.

No Brasil, a elite também tem aderido a esse tipo de maternidade, principalmente para fugir dos métodos habituais dos hospitais brasileiros, que priorizam a cesariana, por exemplo. Mas o problema é que essa saída alternativa acaba sendo quase obrigatória se a pessoa quiser provar que é uma boa mãe.

A antropóloga e professora da Universidade de Brasília, Soraya Fleischer, constata um fenômeno semelhante no Brasil com uma tendência crescente, por exemplo, de se optar por partos em casa, em detrimento das maternidades e hospitais.

Segundo ela, muitas mulheres vêm abrindo mão de suas carreiras para voltar à vida doméstica, cuidar da casa, dos filhos, do marido e a má repartição nas tarefas domésticas seria uma das responsáveis pela decisão da mulher de abandonar a carreira.

Outro grupo que não está contente com o novo livro de Elisabeth Badinter são os ecologistas. A autora acusa a ecologia radical de tirar direitos já conquistados pelas mulheres nas últimas décadas. Um exemplo seria o incentivo a utilizar fraldas laváveis em vez de pressionar a indústria a criar fraldas biodegradáveis. Badinter reclama que os ecologistas radicais não levam em conta a necessidade das mulheres.

AUDIO

Amanda Lourenço

Jornalista da RFI

08/03/2010