Reportagem publicada em 19/05/2008 Última atualização 21/05/2008 17:42 TU
“Check Point” de Kalandia, uma dos postos de controle para a entrada em Jerusalém.
Foto : Elcio Ramalho / RFI
Seis horas da tarde. No bairro árabe da cidade velha em Jerusalém o som das orações das mesquistas se mistura aos gritos e chutes de bola do grupo de adolescentes que aprende a jogar futebol.
O professor de educação física, Fadi, de 24 anos, lamenta que muitos deles, com talento, não têm oportunidade de tentar a sorte em grandes clubes.
Mas sua maior frustração é de não receber visitas de parentes que moram na Cisjordânia.
"Tenho quatro tios e não os vejo há dois anos, assim como meus primos que até já se casaram e tiveram filhos mas não os conheço", lamenta o jovem professor.
De pontos mais altos de Jerusalém é possível ver os contornos do muro que divide a parte oriental da cidade do território vizinho, a Cisjordânia.
“É um muro político e demográfico. A idéia é manter maioria judaica em Jerusalém separando a população palestina de fora e de dentro da cidade que tem laços mas, por causa do muro, não pode se comunicar", diz Sérgio Yahni, diretor da ong Alternative Media Center.
De carro, são pouco mais de 20 minutos do centro de Jerusalém até a chegada ao primeiro check point , em Kalândia, o posto de controle que funciona como fronteira entre os dois territórios.
O taxista exige que o pagamento seja rápido porque não é permitido parar no local. A travessia para o território palestino da Cisjordânia é rápida, sem fiscalização mas, para os que entram em Israel, a vistoria de documentos dos motoristas e passageiros dos carros e ônibus é rigorosa.
Para os que fazem a travessia a pé, a fila é grande, improvisada e sem privilégios para idosos ou para os que carregam crianças de colo. A disputa por um espaço que permite avançar pelas três portas giratórias, acionadas mecanicamente em intervalos irregulares pelos jovens soldados israelenses, é feita na base de empurrões.
Os objetos são todos revistados por máquinas de raio X e os documentos são exibidos através de vidros blindados.
Segurança
" Desde a Intifada terminou a vida, não tem mais liberdade. Não tem como entrar em Israel, está tudo trancado ", diz o taxista Rizo Khaled.
Foto : Elcio Ramalho / RFI
Dois terços do muro previsto para ter 790 quilômetros de extensão já estão construídos, mas a obra parou principalmente pela pressão da comunidade internacional que media um acordo de paz entre palestinos e israelenses.
"O muro é uma barreira física que, assim como foi erguida, pode ser derrubada. Depende das condições de segurança", resume Moshka Hatzamri, diretor do departamento de relações internacionais do Partido Trabalhista de Israel.
A decisão de construir o ‘muro de proteção’, segundo definição das autoridades israelenses, foi tomada em junho de 2002, durante a segunda Intifada, o levante palestino contra a ocupação isralense dos territórios com o objetivo de evitar a entrada de ativistas radicais e as ações terroristas.
Impedido de entrar em Israel, o motorista de táxi, Rizo Khaled, 41 anos, limitou seu trabalho à Cisjordânia e conhece até as estradas a serem evitadas por causa dos check points fixos e também volantes que protegem a população das colônias israelenses no território.
"Antes para ir até Ramallah, levava uns 20 minutos por uma estrada direta, agora temos que dar muitas voltas", afirma.
Rizo nasceu na Cisjordânia e viveu 13 anos no interior do Rio Grande do Sul, onde nasceram seus quatro filhos. Voltou à terra natal mas tem saudades do Brasil. "Aqui é uma grande prisão a céu aberto", lamenta.
Brasileiros
Com o passaporte brasileiro o comerciante Adeeb Chakri consegue viajar facilmente pela região para fechar negócios.
Foto : Elcio Ramalho / RFI
Dos dois milhões de palestinos vivendo na Cisjordânia, cerca de 2 mil tem nacionalidade brasileira e muitos deles são conhecidos na sociedade local.
No centro de Ramallah, o empresário Adeeb Chakri administra uma loja de produtos para enfeites e decoração e três estações de rádio.
Ele tinha 15 anos em 1968, quando se mudou para Porto Alegre. Depois de viver 13 anos no Brasil voltou à Cisjordânia para assumir os negócios do pai, apesar das dificuldades.
"Para trazer e transportar mercadorias aqui é um problema. Muita fiscalização e revistas a qualquer hora", reclama. "Mas, graças ao passaporte brasileiro, consigo viajar por outros países da região para fazer negócios", afirma.
Apesar das facilidades, os palestinos não podem utilizar o documento brasileiro para circular por Israel porque seriam considerados clandestinos, já que o tempo de permanência para turistas é limitado.
Esse aspecto burocrático impediu que o prefeito de Deir Debwan, Adib Youssef Haq, prosseguisse seu tratamento de câncer em um hospital especializado em Jerusalém.
"Estou me tratando aqui mesmo, mas não temos os mesmos recursos", conforma-se. Além da saúde debilitada, o prefeito tem que administrar uma cidade de 15 mil habitantes que fica deserta a maior parte do ano, porque muitos moradores vão buscar uma vida melhor bem longe daqui.
A decisão é comum. Ele mesmo voltou à cidade natal em 1999, depois de 35 anos vivendo entre Porto Alegre, São Paulo e Brasília onde trabalhou como representante da OLP – Organização pela Libertação da Palestina.
Adib Haq venceu 26 adversários nas primeiras eleições municipais realizadas na Cisjordânia em 2005 mas não esconde sua decepção com a dificuldade de seu grupo político, o Fatah, em combater o movimento radical Hamas que desperta simpatia na população.
"A gente se sente com vergonha de tudo o que aconteceu, a vitória deles…. Mas vamos continuar lutando para a construção do estado palestino", diz com pouca empolgação.
A divisão entre os palestinos parece distanciar cada vez mais as esperanças de paz.
"Ninguém gosta daqui. Tem muito problema, muita barreira", afirma a carioca Maria José Santana Basma, que vive há 33 anos no território palestino.
"Quando cheguei aqui meus quatro filhos eram pequenos e não deu para voltar. Para a gente, que já está velho, já foi difícil mas para os jovens agora é pior. Aqui não tem futuro, não. Só na mão de Deus."
(Reportagem realizada pelo enviado especial da RFI, Elcio Ramalho)
ÁUDIO
Historiador - Universidade de Tel Aviv
"Esse é o grande drama de um país que não tem fronteiras, que não sabe onde começa e nem onde termina. Não apenas que não tenha fronteiras territoriais mas que não tem limites psicológicos, ou seja, os israelenses se permitem tudo, ou quase tudo porque não sabem quais são seus limites.”
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