Reportagem publicada em 16/07/2009 Última atualização 20/07/2009 14:44 TU
Além do frio, que pode chegar a 20 graus negativos no inverno, da língua e dos costumes, estrangeiros que decidem viver na Rússia podem enfrentar ainda um outro grande obstáculo no processo de adaptação: o racismo.
Estatísticas revelam que população russa ainda tem sérias dificuldades em acolher outras etnias e nacionalidades no seu solo.
Uma das organizações de direitos humanos atuantes no país, a SOVA, com base na capital moscovita, milita para denunciar a prática de atividades xenófobas e racistas no país e transformar uma situação cada vez mais preocupante.
De janeiro a junho deste ano, não menos de 147 pessoas foram vítimas de violência de grupos neonazistas, sendo que 36 delas morreram. As estatísticas foram divulgadas pela SOVA que monitora diariamente a situação no país.
Mas os próprios responsáveis pela Ong admitem que os números, baseados em dados oficiais, estão longe de refletir a realidade.
"A violência racial está se tornando cada vez mais crítica ano após ano no país. Se falarmos de maneira mais ampla de discriminação, ela está presente no trabalho, em casa e em outros lugares. O problema que existe mas não é muito discutido na nossa sociedade porque as pessoas às vezes não parecem entender", diz Alexander Verkhovsky, diretor da SOVA.
Vítimas
As estatísticas indicam que maioria das vítimas é da Ásia Central e da região do Cáucaso e depois vem grupos de outras partes da Ásia e também do continente africano.
"As pessoas que atacam o que eles chama de ‘aliens’, não diferenciam suas vítimas. Os racistas atacam os estrangeiros de modo geral e não se preocupam em saber de onde eles vêm ", comenta o diretor da SOVA.
Os estudantes Berzélio Gomes (à esq.) e Bala Baldé (centro), da Guiné Bissau já foram vítimas de agressões racistas físicas e verbais.
Foto: Elcio Ramalho/RFI
Um das comunidades que mais sente na pele o preconceito dos grupos racistas na Rússia é a de origem africana.
A maior parte dos negros veio ao país para estudar. Em Moscou eles são vistos sempre em grupos e vivem na residência universitária instalada bem em frente à RUDN, a Universidade da Amizade dos Povos.
Estudante do segundo ano de veterinária, Bala Balde de 27 anos, da Guiné Bissau, já foi agredido dentro de ônibus e recebeu insultos racistas.
"Um homem no metrô perguntou o que eu estava fazendo no país e quando respondi, resolveu me agredir. Em uma outra vez, uma senhora de uns 60 começou a gritar quando me viu. As pessoas perguntaram o que tinha acontecido e ela disse ter visto um macaco", conta o jovem de 27 anos.
O nigeriano James que estuda Administração Pública, distribui panfletos nas ruas de Moscou oferecendo aulas de inglês para ajudar a pagar as despesas disse já ter superado os momentos mais difíceis.
"Quando saímos à noite, muitos nos ofendem, jogam pedras, atiram latas de cerveja… muitas ofensas acontecem por causa do álcool. Dois meses depois de ter chegado aqui na Rússia eu pensei : vou voltar para meu país, mas muitas pessoas me estimularam a ficar e me concentrar no que eu tinha vindo fazer aqui. Foi o que me fez ficar", diz o estudante.
Os grupos racistas e as pessoas xenófobas na Rússia também não poupam as mulheres. A estudante da Costa do Marfim, Sandra N’Dgah prefere não entender as agressões verbais: "não posso dizer que me sinto ofendida porque não entendo o que eles dizem. Eu faço como se não ouvisse. Eu acho que são insultos mas eu vim aqui para estudar e não para ouvir coisas que não me interessam".
Punição
Segundo estatísticas divulgadas pela Ong SOVA, nos seis primeiros meses de 2009, a justiça já condenou 54 pessoas por crimes motivados pelo ódio racial. Mas para o diretor da ONG, Alexander Verkhovsky, a justiça deveria ser mais eficiente.
"A proporção dos crimes violentos cometidos por motivação racial e o julgamento efetivo de processos e pessoas envolvidas é, no momento, de 20 por 1, o que é muito baixo. Mas essa situação está melhorando. A polícia de Moscou e de outras regiões do país está prendendo mais agressores", diz o diretor da Ong.
A experiência de 7 anos no país já permite ao presidente da Associação dos Estudantes da Guiné Bissau, Berzélio Rufino Gomes, afirmar que a sociedade russa já fez progressos : " tenho amigos russos e saímos juntos para passear. A situação já está melhor", assegura.
Áudio
Repórter on line
19/03/2010 12:39 TU
19/03/2010 11:43 TU
19/03/2010 11:26 TU
18/03/2010 16:34 TU
16/03/2010 13:51 TU
Repórter online
Esportes
Cotações + Meteorologia