Reportagem publicada em 01/12/2009 Última atualização 09/12/2009 11:06 TU
A África contribui com menos de 4% das emissões globais de gases que provocam o efeito estufa, mas é considerada a região do mundo mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas.
A razão é, antes de tudo, econômica. Onde há menos dinheiro, há menos margem de manobra para negociar e menos viabilidade para implementar projetos que possam reduzir, evitar ou compensar os efeitos das mudanças do clima.
Segundo os diferentes cenários apresentados nos últimos relatórios do IPCC, o painel da ONU para mudanças climáticas, a temperatura do globo pode aumentar entre 1,8 e 4 graus até o final do século se nada for feito para conter o avanço do aquecimento do planeta .
As previsões indicam que o aquecimento deve ser ainda mais forte no continente africano, que pode registrar, neste século, um aumento médio das temperaturas entre 3 e 4 graus, quer dizer 1 grau e meio a mais do que no resto do mundo.
Embora ainda existam incertezas sobre as relações diretas entre mudanças e variações climáticas, o certo é que as alterações no regime de chuvas e secas têm castigado o continente.
Segundo Mathieu Badolo, do Instituto de Aplicação e Vulgarização das Ciências, um dos poucos cientistas no Burkina Fasso que trabalha, especificamente, com a questão das mudanças climáticas, a África é, ao mesmo tempo, a zona mais vulnerável do planeta, mas também a região em que há mais incertezas sobre os efeitos e a intensidade dessas mudanças.
"Os estudos ainda são incipientes devido, principalmente a uma rede meteorológica pouco desenvolvida que não permite retraçar dados confiáveis e, também, pelo fato de que ainda são poucas as pesquisas sobre o assunto na Africa", afirma.
Apesar disso, Badolo diz que já se podem "constatar algumas tendências como, por exemplo, o aumento das temperaturas e de fenômenos extremos, como secas, inundações ou ondas intensas de calor.
Secas e Inundações
A partir da segunda metade do século 20, a região oeste da Africa registrou redução significativa no regime de chuvas. Países como o Burkina Fasso, que estão entre os mais pobres do mundo, viveram nos anos 70 e 80 as piores secas de sua história recente, com graves consequências sociais e econômicas, já que a agricultura, principal atividade econômica, é fortemente dependente das chuvas.
"De maneira geral, a partir da década de 70, pudemos constatar que estamos em uma situação de déficit pluviométrico. Quer dizer que, nos últimos 20 anos, tem chovido cada vez menos com relação ao período anterior, com repercussões negativas para os recursos hídricos e o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, pois o acesso a água é um elemento essencial" explica Badolo.
No Burkina, 80% da população ativa vive da agricultura e pecuária, principalmente do cultivo de algodão, sorgo, milho, amendoim, e feijão. Por isso, são os agricultores burquinabês os que mais sentem os efeitos da mudanças no regime das chuvas. Muitos nunca ouviram falar em mudanças climáticas, pelo menos não como hoje é utilizado o termo, mas constatam, na prática que, com os anos, vegetação e clima estão mudando.
“Antes, chovia constantemente todos os anos. Agora, tem anos que chove bem, outros que quase não chove. E quando a chuva cai, como não há mais vegetação, não há mais árvores e não há mais grama, ao invés de entrar no solo, a água corre e desaparece" constata Kindo Harouna, camponês que vive em um pequeno vilarejo em Bogoya, no norte do Burkina Fasso.
Conferência de Copenhague
Há duas semanas da abertura da Conferência do Clima das Nações Unidas de Copenhague, os países africanos sabem que não podem baixar a guarda.
Na última reunião preparatória para a Conferência, realizada em Barcelona, no início de novembro, os negociadores africanos chegaram a abandonar as negociações, para pressionar os países industrializados a reduzir as emissoõs de CO2 e a fixar o montante para o financiamento das ações de combate às mudanças climaticas nos países pobres e em desenvolvimento.
Os paises africanos e os emergentes, entre eles o Brasil, defendem que o esforço maior para redução das emissões deve vir dos países industrializados, devido a sua responsabilidade histórica. A posição da África é que os industrializados devem cortar, até 2020, 40% do nível de suas emissões registrado em 1990.
Mulheres vendem colheita no vilarejo de Samyaga, perto da cidade de Uahiguya, norte do Burkina Fasso.
Foto : Ana Carolina Dani/RFI
O financiamento, é outra questão delicada. A Uniao Européia estima em 100 bilhões de euros o montante da ajuda que os países industrializados devem repassar aos países pobres e em desenvolvimento para financiar acões de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Segundo o secretário permamente do Conselho Nacional do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Burkina Fasso, Onadjia Mamadou, a questão do finaciamento é extremamente importante.
" O que defendemos é que a criação de fundos especiais destinados aos países em desenvolvimento e, particularmente, aos países mais pobres não seja feita de maneira voluntária. É necessário que haja obrigações concretas para os países industrializados, que são os principais poluidores", afirma.
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Jornalista da RFI
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