Reportagem publicada em 01/12/2009 Última atualização 02/12/2009 17:19 TU
Técnica do "cordão de pedras" : os níveis delimitados pelas pedras ajudam a infiltração da água nos solos.
Foto : Ana Carolina Dani/RFI
Da capital Uagadugu até a cidade de Goursi, no norte do Burkina Fasso, são pouco mais de 130 km. A estrada é a mesma que leva ao Mali. Um buraco aqui, outro ali, mas nada dramático.
Em menos de duas horas, chegamos a Goursi, vilarejo de pouco mais de 1 mil habitantes, onde se cultiva principalmente cereais como milho, sorgo, amendoim, e feijão.
Depois de deixar a confusão frenética de carros, bicicletas, mobiletes e pedestres dos arredores de Uagadugu, o caminho é calmo, tranquilo. Poucos veículos, alguns animais e vilarejos salpicados, com casinhas de argila.
Foto mostra limite entre área degradada e zona rehabilitada com a técnica do "cordão de perdras" nos arredores do vilarejo de Gourcy.
Foto : Ana Carolina Dani/RFI
A terra no Burkina Fasso é de um vermelho vivo. Terra de pouca fertilidade, explica Mathieu Ouedraogo, que há mais de 30 anos trabalha com camponeses da região desenvolvendo técnicas ancestrais de adaptação para lutar contra as secas e degradação dos solos.
Um dos métodos, chamado de cordon pierreux, ou cordão de pedras, em tradução livre, consiste em dividir o terreno em curvas de nível, separadas por barreiras feitas de pedra, que servem de diques e impedem que a água se disperse, ajudando a irrigação dos solos.
"Quando a água vem, ela traz também sementes e, uma vez que essas sementes são depositadas aqui, acabam crescendo e virando vegetação. Como são plantas locais, adaptadas ao meio ambiente, não é necessário irrigá-las. Quanto mais se conserva a água e o solo, mais você refloresta o meio ambiente", explica Ouedraogo.
Agricultores
Mathieu Oedraogo (à direita) trabalha há mais de 30 anos com agricultores no Burkina incentivando técnicas para a recuperação dos solos.
Foto : Ana Carolina Dani/RFI
Ali Hosseni foi um dos primeiros agricultores da região a aceitar introduzir a técnica do cordão de pedras em sua propriedade. Com quase 80 anos e saúde que poderia dar inveja a jovens quarentões, Ali explica que, quando era ainda adolescente, a paisagem local era completamente diferente.
Havia muita vegetação e animais selvagens. Depois, a partir dos anos 60, tudo mudou. As plantas e os animais sumiram e Ali diz se lembrar somente de uma árvore, onde costumava deixar a bicicleta quando ia trabalhar no campo.
Hoje, 26 anos após ter introduzido a técnica, Ali planta sogro, uma variedade local de milho, amendoim e feijão. Os animais selvagens não voltaram, mas vegetação natural voltou a crescer no local, recuperando a terra degrada. Com isso, Ali pode alimentar a família. "Não passamos mais fome", diz.
Outra técnica ancestral que vem sendo utilizada no Burkina Fasso para lutar contra os efeitos da seca e degradação dos solos é o chamado ZAI. Para conhecê-lo, deixamos a propriedade de Ali e vamos em direção de outro vilarejo, desta vez na região de Guié, mais ao sul de Ugadugu.
Quem nos recebe é Amos Bonkoungou. Ele é o coordenador da fazenda de Guié, da Associação AZN, que desenvolve, há vinte anos, projetos de recuperação do solo com camponeses da região. A associação foi criada por um francês, Henri Girard, que vive há 30 anos no Burkina Fasso.
O ZAI consiste em realizar buracos na terra, que serão cobertos com compostos orgânicos para armazenar a água da chuva. A recomendação é que 10 mil buracos sejam feitos por hectare.
Os agricultores cavam os buracos a mão. A recomendação é cavar 10 mil buracos por hectare.
Foto : Ana Carolina Dani/RFI
"O ZAI consiste em cavar os buracos antes da chuva com composto orgânico. Quando chove, a água entra, possibilitando o crescimento da planta, que fica mais resistente à seca, mesmo se não chover durante semanas. Com a água que conseguimos guardar, a planta consegue sobreviver e crescer bem», explica Amos Bonkongou
Como Ali Hosseni, outros 40 agricultores da região aceitaram introduzir, nos últimos anos, técnicas de conservação dos solos.
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