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Haiti/Terremoto

Ajuda internacional começa a chegar ao Haiti

Reportagem publicada em 14/01/2010 Última atualização 15/01/2010  09:40 TU

Por falta de equipes especializadas, é a própria população que embala com lençois os corpos de vítimas do terremoto no Haiti.  Foto: Reuters/Joel Trimble

Por falta de equipes especializadas, é a própria população que embala com lençois os corpos de vítimas do terremoto no Haiti.
Foto: Reuters/Joel Trimble

A ajuda humanitária começou a chegar ao Haiti, que teve a capital Porto Príncipe desvastada pelo pior terremoto dos últimos 200 anos na região. A Cruz Vermelha Internacional fala em 50 mil mortos, enquanto o governo haitiano estima que mais de 100 mil pessoas morreram na catástrofe de terça-feira. Um terço dos 9 milhões de haitianos podem precisar de ajuda de emergência, estima a Federação Internacional da Cruz Vermelha.  

O primeiro avião brasileiro com mantimentos e equipes de resgate era esperado em Porto Príncipe na manhã de hoje. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, desde ontem à noite no local, disse que o governo brasileiro vai participar das operações dando prioridade ao sepultamento dos mortos, para evitar a propagação de epidemias. O governo brasileiro vai enviar um hospital de campanha, com 46 médicos e enfermeiros, para atender os feridos. Responsável militar da missão de paz da ONU no Haiti, o Brasil disponbilizará, até sexta-feira, 28 toneladas de alimentos aos desabrigados. Segundo o Ministério da Agricultura, serão enviados víveres como açúcar, leite em pó e sardinha.  

Desde a noite de quarta-feira, as primeiras equipes internacionais de resgate desembarcaram na ilha. Aviões com ajuda humanitária chegaram de Estados Unidos, China, Venezuela, França, Itália e Reino Unido.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as prioridades imediatas são a busca e o resgate de sobreviventes, e o tratamento de feridos graves. A OMS considera importante a prevenção de doenças e a distribuição de água potável pelo risco de propagação de epidemias. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) criou um site especial para ajudar as pessoas no Haiti e no exterior a encontrar familiares desaparecidos. O endereço é www.icrc.org/familylinks.   

Agências multilaterais e governos desbloqueiam recursos  

A comunidade internacional acelera os esforços para ajudar a população haitiana. A contribuição do governo brasileiro às vítimas do terremoto soma US$ 10 milhões. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, anunciou que a instituição vai oferecer US$ 100 milhões de forma imediata ao Haiti. Strauss-Kahn salientou que será necessário um apoio maior do FMI e da comunidade internacional para reconstruir a ilha. O Banco Mundial desbloqueou US$ 100 milhões. O Grupo do Rio, organização que reúne 24 países latino-americanos, anunciou contribuição para operações de socorro emergencial.

O presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu em discurso uma ação "rápida, coordenada e enérgica". O Pentágono enviou um porta-aviões nuclear e outros navios da Marinha com a missão de "salvar vidas", disse Obama. A Casa Branca destinou US$ 100 milhões de ajuda ao Haiti e um contingente de 3.500 soldados norte-americanos viajará para Porto Príncipe. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e o ministro das Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner, organizam o envio de equipes franco-americanas especializadas no atendimento de catástrofes.

França transfere feridos para hospitais na Martinica

A França despachou destacamentos da defesa civil e um pelotão militar para participar das operações de socorro no Haiti.   Foto: Reuters/Jean-Paul Pelissier

A França despachou destacamentos da defesa civil e um pelotão militar para participar das operações de socorro no Haiti.
Foto: Reuters/Jean-Paul Pelissier

Os primeiros 91 feridos de nacionalidade francesa foram transferidos nessa quinta-feira para a ilha da Martinica, território francês no Caribe, onde estão hospitalizados. Eles foram transportados em três aviões militares franceses que chegaram na véspera ao Haiti, levando equipes de socorro, policiais, um cão farejador treinado para localizar eventuais sobreviventes nos escombros, além de remédios e produtos de primeira necessidade. O ministro da Indústria francês, Christian Estrosi, lançou um apelo às indústrias farmacêuticas, pedindo que elas façam doações de medicamentos para as vítimas do tremor de terra.

Nesta quinta-feira, um Airbus A 310 com 60 militares franceses deve chegar a Porto Príncipe e o secretário de Estado francês para a Cooperação, Alain Joyandet, vai ao Haiti para manifestar solidariedade e avaliar as necessidades de ajuda ao país. A França também está enviado mais pessoal do corpo diplomático para ajudar o embaixador no Haiti, que ficou levemente ferido no terremoto. Cerca de 200 franceses que moram no Haiti estão acampados nos jardins ou nas proximidades da embaixada francesa em Porto Príncipe.

A comunidade haitiana radicada em Paris expressa sua solidariedade às vítimas. Ontem, cerca de cem haitianos se reuniram em Saint Denis, subúrbio ao norte da capital, para uma vigília de solidariedade. Uma missa para as vítimas do tremor de terra será celebrada na tarde de sábado, na catedral de Notre Dame, em Paris.

A França continua tentando encontrar e se comunicar com outros cidadãos franceses residentes no Haiti. O chanceler Bernard Kouchner disse que ainda é cedo para dizer se algum francês morreu na tragédia. Entre 1.200 e 1.500 franceses moram no país caribenho, a grande maioria na capital.

O governo do presidente Nicolas Sarkozy decidiu suspender temporariamente as expulsões de haitianos vivendo em situação irregular na França, em uma medida simbólica para atenuar as dolorosas consequências da tragédia.

Brasileiros mortos

O Exército brasileiro informou, nesta quinta-feira, que o número de militares brasileiros mortos na catástrofe subiu para 14 pessoas. Todos faziam parte da Minustah, a missão de paz da ONU no Haiti. Além dos militares, o terremoto matou a médica sanitarista, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, que visitava o país para realizar uma série de palestras com parceiros da Igreja interessados no trabalho da Pastoral. Zilda Arns, que estava com 75 anos, falava em uma escola quando o tremor de terra aconteceu e destruiu as instalações. Um diplomata permanece desaparecido. 

O Itamaraty criou em Brasília um número de emergência para familiares que não conseguem contatar pessoas no Haiti, uma vez que as linhas telefônicas foram bastante afetadas. Esse plantão vai criar uma lista de nomes a ser passada para os diplomatas no Haiti. Os números do plantão telefônico estão disponíveis no site do Ministério das Relações Exteriores (http://www.mre.gov.br/).

A Minustah foi criada em 2004 com o objetivo de proteger os civis, contribuir ao desarmamento e favorecer eleições justas e transparentes no Haiti. A missão conta atualmente com pouco mais de 7 mil militares e quase 2.100 policiais. O Brasil tem 1.300 militares nessa força especial. A sede da Minustah também desabou no tremor. A ONU confirmou a perda de 36 funcionários na catástrofe.

Autoridades haitianas pedem ajuda

O palácio presidencial, em Porto Príncipe, foi destruído pelo terremoto.  Foto: Reuters/Eduardo Munhoz

O palácio presidencial, em Porto Príncipe, foi destruído pelo terremoto.
Foto: Reuters/Eduardo Munhoz

Na quarta-feira, o presidente do Haiti, René Preval, fez um apelo desesperado por ajuda internacional. “Meu palácio desabou, não posso viver no palácio, nem em minha casa, os dois desabaram. Agora eu trabalho para socorrer as pessoas. É inacreditável. Muitas casas, hospitais e escolas foram destruídos. Precisamos de médicos, de remédios, de ajuda médica geral." O primeiro-ministro Jean-Max Bellerive afirmou que vai concentrar os esforços na recuperação do aeroporto de Porto Príncipe, que precisa voltar a funcionar em sua capacidade total para receber cargas de ajuda humanitária pessoal especializado.

O desafio da comunidade internacional é ter acesso aos mais necessitados. As informações sobre vítimas e danos materiais ainda são desencontradas e o socorro se faz de maneira caótica. As principais estradas em torno de Porto Príncipe foram destruídas pelo tremor de terra, dificultando a distribuição de mantimentos. Os desabrigados pelo terremoto de intensidade 7 na escala Richter passaram a segunda noite dormindo nas calçadas. Falta eletricidade na capital e o terremoto comprometeu seriamente a estrutura de telecomunicações do país.

Internet é o principal meio de comunicação após o tremor

Dois dias após o terremoto, a internet aparece como o principal meio de comunicação com o Haiti. Com parte das linhas telefônicas interrompidas, alguns moradores divulgaram informações na rede mundial de computadores sobre a situação no país após o tremor.

Em um blog, um oficial da Brigada Militar do Rio Grande do Sul colocou no ar vários depoimentos de militares que integram a Missão de Paz da ONU no Haiti. 

Veja as imagens da catástrofe, feitas pela rádio Signal FM Haïti, parceira da RFI.

 

AUDIO:

Cel. Alan Sampaio Santos, membro da Força de Paz do exército brasileiro no Haiti

“Nós estamos conseguindo controlar a situação e por enquanto a população não está em pânico”

14/01/2010

 

Françoise Bouchet-Saulnier, responsável jurídica da ONG Médicos sem fronteiras

"Mais de mil pessoas foram atendidas nos quatro postos da Médico sem fronteiras somente na quarta-feira. Fomos obrigados a colocar os doentes embaixo de tendas nas ruas".

14/01/2010

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