Haiti/Terremoto

Autoridades haitianas já enterraram 120 mil corpos após o terremoto

Reportagem publicada em 23/01/2010 Última atualização 23/01/2010  19:35 TU

Em Nova York, Madonna canta para arrecadar fundos para as vítimas do tremor de terra no Haiti.
Foto: Reuters

As buscas por sobreviventes terminaram oficialmente no Haiti, dez dias após o terremoto que devastou a capital Porto Príncipe e outras cidades do país. Mas segundo o coronel brasileiro Alan Sampaio Santos, voluntários continuam a buscar sinais de vida sob os escombros. Na sexta-feira, os bombeiros ainda retiraram dois sobreviventes das ruínas, uma mulher de 84 anos e um homem de 22 anos. As autoridades haitianas já enterraram 120 mil corpos, segundo novo balanço divulgado neste sábado pela ministra da Cultura e Comunicação, Marie-Laurence Jocelyn Lassègue. O governo tenta contabilizar agora os corpos que foram recuperados pelas famílias. O número total de vítimas fatais do terremoto pode ultrapassar 200 mil pessoas.

Desde o dia 12 de janeiro, as equipes de resgate salvaram 132 pessoas soterradas. Durante os dez dias de buscas, 1.918 bombeiros e 160 cães farejadores, divididos em 67 equipes, vasculharam ruínas na capital e em cidades do sul do Haiti, as regiões mais atingidas pelo tremor de terra.    

Encerradas as operações de buscas por sobreviventes, as operações humanitárias vão se intensificar. Embora a logística melhore a cada dia, a distribuição de alimentos ainda é caótica para milhares de desabrigados. As equipes humanitárias também intensificam a assistência aos 190 mil feridos pelo terremoto. Os hospitais de campanha não param de receber pacientes e devem trabalhar em ritmo frenético por um mês. Além das cirurgias complexas e amputações, os voluntários se veem confrontados a dramas humanos, como o de crianças órfãs abandonadas na porta dos hospitais e pacientes necessitando de cuidados pós-operatórios, mas que perderam toda a família. 

Como ocorre frequentemente nessas catástrofes, milhares de pessoas que perderam tudo deixam a cidade para procurar outro local onde poderão recomeçar a vida. Segundo a ONU, 130 mil pessoas aceitaram a oferta de transporte gratuito feita pelo governo haitiano e deixaram Porto Príncipe. A FAO, Agência da ONU para Agricultura e Alimentação, estima que o número de deslocados pelo terremoto pode chegar a 1 milhão de pessoas.

Ministro Celso Amorim visita Porto Príncipe  

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem uma série de reuniões previstas neste sábado em Porto Príncipe. Amorim vai se encontrar com o presidente René Préval, com o primeiro-ministro Jean-Max Bellerive e com a chanceler Michèle-Marie Rey na sede provisória do governo haitiano. O chanceler brasileiro também fará reuniões com o embaixador Edmond Mullet, representante interino do secretário-geral da ONU no Haiti, com o general Floriano Peixoto, comandante militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), com Kim Bolduc, coordenadora de assistência humanitária da ONU naquele país, além dos comandantes dos batalhões brasileiros e funcionários brasileiros de organizações internacionais, segundo informações do Itamaraty.

O chanceler deverá sobrevoar a capital haitiana para avaliar a devastação provocada pelo terremoto e visitar o Centro Cultural Brasil-Haiti, onde funciona provisoriamente a Embaixada do Brasil em Porto Príncipe. Amorim partirá de Porto Príncipe para Montreal, onde acontece, na segunda-feira, uma reunião preparatória à conferência para a reconstrução do Haiti, prevista para ocorrer em março.

Estrelas participam de show organizado por George Clooney

Dezenas de personalidades do mundo artístico participaram nesta sexta-feira do show organizado pelo ator norte-americano George Clooney e o canal de televisão MTV para arrecadar recursos às vítimas do terremoto no Haiti. O show, que reuniu mais de 130 artistas, teve apresentações simultâneas de Nova York, Los Angeles e Londres. O programa "Esperança para o Haiti Agora" contou com a participação de Bono, Madonna, Rihanna, Beyonce, Alicia Keys, Christina Aguilera, Justin Timberlake, Taylor Swift, Bruce Springsteen, Mary J. Blige, Shakira, Sting, Chris Martin, do grupo Coldplay, Denzel Washington, Nicole Kidman e Stevie Wonder.

Seguindo o exemplo de George Clonney e de Angelina Jolie e Brad Pitt, Leonardo DiCaprio anunciou que também dará 1 milhão de dólares de sua fortuna pessoal para contribuir com as operações de socorro no Haiti. O restante do dinheiro arrecadado no show "Esperança para o Haiti Agora" será distribuído para organizações humanitárias presentes no Haiti, como o Fundo Bush-Clinton, criado pelo presidente Barack Obama, o Programa Alimentar Mundial da ONU, a Cruz Vermelha e a Unicef.  

Haitianos adotados por famílias francesas chegam a Paris

A primeira-dama da França, Carla Bruni Sarkozy, foi ao aeroporto recepcionar as 33 crianças haitianas adotadas por famílias francesas que chegaram nesta sexta-feira a Paris.
Foto: Reuters

A primeira-dama da França, Carla Bruni Sarkozy, esteve na noite desta sexta-feira no aeroporto Charles de Gaulle Roissy, na região parisiense, para acolher as primeiras 33 crianças haitianas adotadas por famílias francesas. Todas as crianças já haviam recebido os passaportes franceses antes do terremoto de 12 de janeiro. Um outro grupo de pequenos haitianos, cujos processos de adoção chegaram à fase final, deve chegar à França neste sábado. As autoridades francesas afirmam estar agindo com toda cautela para evitar qualquer tipo de irregularidade na transferência das crianças.

A Unicef lançou um alerta esta semana, informando que 15 crianças haitianas desapareceram dos hospitais nos últimos dias. A Unicef lembra que as redes de tráfico de crianças, que atuam no mercado de adoções ilegais, estão ativas no Haiti, como costuma acontecer após esse tipo de catástrofe.

Alerta de réplicas

Especialistas alertam que o risco de novos tremores de terra no Haiti continua elevado, com réplicas prováveis nos próximos 30 dias. Segundo o Instituto Americano de Geologia, a possibilidade de um novo terremoto de intensidade 7, entretanto, é de apenas 3%. "As réplicas vão continuar durante meses, anos, mas a frequência diminuirá com o tempo", destaca um relatório do Instituto.

Geólogos insistem na necessidade de reconstruir as moradias no Haiti respeitando as normas previstas em regiões sujeitas a tremores de terra, como a Califórnia e o Japão.

Desde o dia 12, mais de 50 réplicas já foram registradas na região, a mais forte delas atingindo 5.9 na escala Ritcher, na sexta-feira. A capital Porto Príncipe é situada em uma área suscetível a abalos sísmicos, entre as placas tectônicas da América do Norte e do Caribe.