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Crise econômica

Executivo francês deve ir trabalhar com kit anti-sequestro

Reportagem publicada em 29/04/2009 Última atualização 29/04/2009 11:45 TU

Empregados de uma filial do grupo alemão Continental protestam contra o fechamento definitivo da fábrica de Clairoix, ao norte da região parisiense.  Foto: Reuters

Empregados de uma filial do grupo alemão Continental protestam contra o fechamento definitivo da fábrica de Clairoix, ao norte da região parisiense.
Foto: Reuters


A multiplicação de sequestros de executivos e industriais por trabalhadores indignados com os planos de demissão, motivados pela crise econômica, tem induzido à criação de novos produtos e serviços na França. Empresas de consultoria estão oferecendo cursos para ensinar os executivos a lidar com essa situação de crise. Entre as recomendações que tentam dar uma conotação menos dramática aos sequestros relâmpagos, os consultores aconselham os executivos a manter na gaveta do escritório um "kit de sobrevivência". Ele deve conter escova e pasta de dentes, uma troca de camisa e gravata limpas e um telefone celular, com número secreto, para que o executivo possa ligar para a família e a polícia avisando do sequestro. Profissionais da área de recursos humanos têm levado a sério essas recomendações, principalmente nos dias em que fazem anúncios de cortes de pessoal. 

Sequestros eram comuns nos anos 70

O sequestro de patrões surgiu na França na década de 70. Depois, caiu em desuso pela evolução do diálogo social. Com a nova crise econômica mundial e a falta de perspectivas para os trabalhadores, o sequestro de executivos foi ressuscitado como instrumento de pressão. Nas últimas semanas, a França conheceu vários casos em empresas como Caterpillar, Molex, Sony, 3M, Scapa, Faurecia... 

Interessante é notar que, em alguns casos, os trabalhadores obtiveram vantagens. Na Sony, que teve um diretor de fábrica sequestrado, e na Scapa, onde quatro executivos foram retidos pelos empregados, as indenizações de demissão quase dobraram. Na Caterpillar, com quatro executivos sequestrados, a empresa acabou reduzindo o número de cortes previsto. Os executivos prestaram queixa criminal contra os sindicalistas envolvidos na ação. Mas para satisfação dos trabalhadores da Caterpillar, na última segunda-feira a justiça francesa rejeitou o plano de 733 demissões apresentado pela empresa, obrigando a retomada das negociações com os sindicatos.

Sindicalista não teme represália judicial

Um dos casos recentes de sequestro é o de três diretores do grupo de autopeças Faurecia, que foram retidos por 6 horas na fábrica de Brières-sur-Scellés, no sul da região parisiense. José de Sá Moreira, delegado sindical da Confederação Francesa dos Trabalhadores (CFDT), com 37 anos de casa, participou da ação. Em entrevista à RFI, ele afirma que o sequestro é uma forma de chamar a atenção para a grave situação dos trabalhadores ameaçados de desemprego. José de Sá Moreira diz não ter medo de ser condenado pelo sequestro, embora o presidente Nicolas Sarkozy tenha prometido uma reação exemplar da justiça.

Várias pesquisas de opinião mostram que os franceses são tolerantes com os sequestros de empresários por trabalhadores. Segundo uma sondagem do instituto Ifop, 30% dos entrevistados afirmam aprovar esse tipo de ação e 63% disseram compreender as razões dos trabalhadores.

(Reportagem realizada por Adriana Moysés) 

ÁUDIO

José de Sá Moreira

Delegado sindical CFDT Faurecia

29/04/2009