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França/Comportamento

Lésbicas recorrem a métodos caseiros para ter filhos

Reportagem publicada em 01/12/2009 Última atualização 05/12/2009  19:28 TU

Militantes celebram decisão do Tribunal de Besançon que autorizou a adoção para um casal de lésbicas francesas.  Foto: AFP

Militantes celebram decisão do Tribunal de Besançon que autorizou a adoção para um casal de lésbicas francesas.
Foto: AFP

A questão da homoparentalidade voltou às manchetes na França. Uma professora de 48 anos, que há 18 anos vive com a companheira na região do Jura e há dez anos tentava adotar uma criança, finalmente recebeu uma decisão favorável da justiça. Gays e lésbicas que lutam no país pela legalização do casamento homossexual, pelo direito à adoção e o reconhecimento jurídico de famílias de pais homossexuais festejaram a decisão de um Tribunal de Besançon.

A imprensa francesa fez um grande barulho em torno dessa decisão. Políticos aproveitaram para se posicionar sobre o direito à homoparentalidade. O ministro francês da Defesa, por exemplo, Hervé Morin, disse ser favorável à adoção de crianças por casais homossexuais. Hervé Morin é um político centrista, do partido Novo Centro. Mas até em alas mais conservadoras, o debate tem avançado. A ministra da Família, Nadine Morano, do partido governista UMP, afirma estar convencida de que é preciso acabar com a hipocrisia e promover um amplo debate na sociedade francesa sobre esse tema. Entre os partidos de esquerda, a aprovação da adoção por casais do mesmo sexo é consensual. O presidente Nicolas Sarkozy, considerado um homem aberto em relação à questão da homossexualidade, adota por enquanto uma posição cautelosa para não irritar a ala mais conservadora de seu partido.

Na Europa, a Suécia foi o terceiro país a autorizar a adoção por casais homossexuais depois da Holanda e da Grã-Bretanha.

Lésbicas usam método caseiro da seringa para engravidar

Outro aspecto ligado à homoparentalidade que chama a atenção atualmente são os fóruns na internet sobre experiências de procriação feitas por lésbicas. A inseminação caseira, também conhecida como método da seringa, tornou-se uma alternativa para muitos casais de mulheres. Como a legislação francesa não permite a inseminação artificial com doador de esperma para mulheres homossexuais, muitas francesas contornam o problema injetando, por via vaginal, uma seringa com esperma doado por algum conhecido. Na França, a lei estabelece que apenas os casais heterossexuais, com dois anos de vida em comum, apresentando problemas de esterilidade, podem recorrer à inseminação artificial. Essa rigidez da legislação faz com que as lésbicas francesas busquem tratamento na Bélgica, Espanha e outros países da Europa mais abertos.

Espanha, Bélgica e Holanda autorizam a inseminação artificial para todas as mulheres, independentemente da orientação sexual e do estado civil das interessadas. A inseminação artificial sem restrições relacionadas com a orientação sexual da candidata também é possível na Itália, em Portugal, na Suécia e na Grã-Bretanha.          

Segundo a Associação de Pais e Futuros Pais de Gays e Lésbicas, na França 11% das lésbicas e 7% dos gays criam filhos. O desejo de fundar uma família é comum: 45% das lésbicas e 36% dos gays querem ter filhos, de acordo com a associação.

Em entrevista à RFI, a antropóloga Miriam Pillar Grossi, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, coordenadora do NIGS, Núcleo de Identidades, Gêneros e Subjetividades, e professora visitante da Universidade de Lisboa, analisa a situação da homoparentalidade na França e no Brasil. Miriam Grossi explica que o fato de o Brasil ainda não ter se dotado de uma lei de bioética acaba favorecendo as lésbicas brasileiras, no que diz respeito à inseminação artificial. Miriam Grossi também relata que no Brasil o movimento LGBT centra sua luta no combate à homofobia, o que também causa preocupação na França.

(Reportagem de Adriana Moysés)

ÁUDIO

Entrevista com Miriam Pillar Grossi

Professora da Universidade Federal de Santa Catarina, coordenadora do Núcleo de Identidades, Gêneros e Subjetividades

01/12/2009