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França/Sociedade

Debate sobre identidade nacional atinge muçulmanos

Reportagem publicada em 14/12/2009 Última atualização 14/12/2009  17:18 TU

O ex-socialista Eric Besson é um dos ministros de abertura do governo Sarkozy, mas aplica uma política dura contra os imigrantes.  Foto: Reuters

O ex-socialista Eric Besson é um dos ministros de abertura do governo Sarkozy, mas aplica uma política dura contra os imigrantes.
Foto: Reuters

O debate sobre a identidade nacional, lançado pelo governo francês em novembro, transformou-se numa enorme polêmica na França. O objetivo fixado pelo governo, de descobrir o que é realmente francês numa França com quase dez milhões de imigrantes, acabou desvirtuando para dar espaço a manifestações xenófobas e preconceituosas contra as pessoas de religião muçulmana e de origem estrangeira.

Uma frase, pronunciada por um prefeito de uma cidadezinha do leste, Gussainville, diz tudo sobre a dificuldade de a França se projetar como uma nação aberta e multicultural. "Eles vão nos engolir", disse o prefeito André Valentin, referindo-se aos imigrantes. "Eles já são dez milhões que a gente paga para não fazer nada", acrescentou o companheiro de partido do presidente Nicolas Sarkozy. Esse tipo de discriminação levou um grupo de intelectuais a lançar um manifesto pedindo a extinção do Ministério da Imigração e da Identidade Nacional, criado durante a gestão Sarkozy. Os signatários da petição acusam o governo de promover uma política nacionalista, que banalizou a rejeição e a violência contra o estrangeiro e ameaça a democracia.

O feitiço pode, no entanto, virar contra o feiticeiro. cerca de 75% dos franceses reconhecem um interesse eleitoreiro no debate sobre a identidade nacional. O partido governista, UMP, está em campanha para as eleições regionais de março de 2010 e quer atrair os votos da extrema-direita para os candidatos do partido.

O professor de civilização e língua portuguesa Carlos Maciel, da Universidade de Nantes, disse em entrevista à RFI que o grande problema atualmente na França é a aproximação de duas coisas distintas, a imigração e a identidade nacional. Maciel vê uma confusão entre os dois temas, promovida principalmente por interesses políticos. O sociólogo El Yamine Soum, co-autor do livro "Discriminar para melhor reinar", um estudo sobre a diversidade nos partidos políticos franceses, também ouvido pela RFI, teme os efeitos negativos do debate, que pode fortalecer uma visão de sociedade dividida entre "franceses brancos e os outros".

(Reportagem de Adriana Moysés)

ÁUDIO

Professor Carlos Maciel, da Universidade de Nantes:

"A França corre o risco de pagar dentro de uma geração o preço dessa política."

14/12/2009