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Política Internacional

Energia: único tema na agenda do planeta

Reportagem publicada em 03/09/2008 Última atualização 03/09/2008 18:53 TU

As energias alternativas são indispensáveis para acabar com a dependência aos produtores de petróleo e gás.  Foto: FAO

As energias alternativas são indispensáveis para acabar com a dependência aos produtores de petróleo e gás.
Foto: FAO


Em 1992, Bill Clinton, então candidato à presidência dos Estados Unidos, deu uma célebre resposta a um assessor que não conseguia entender o tema da campanha: « É a economia, estúpido ! ». Parodiando, hoje, o marido da Hillary, pode-se dizer que, cada vez mais, só há um único tema na agenda do planeta : « É a energia, estúpido ! ». A promessa mais espetacular do candidato democrata Barack Obama, no seu discurso na convenção de Denver, foi a de livrar os Estados Unidos da dependência do petróleo do Oriente Médio em menos de dez anos. O seu adversário republicano, John McCain, foi até buscar, como companheira de chapa, a governadora do Alasca que é favorável à controversa exploração de petróleo nas águas costeiras do seu Estado, inclusive nas que estão classificadas como reservas naturais. Os dois candidatos são favoráveis às energias alternativas, particularmente ao etanol, que é de sumo interesse do Brasil.

Esta idéia de depender menos das fontes de energia de um punhado de países produtores instáveis como os Estados do Golfo ou agressivos como a Rússia também acaba de ser defendida pelo primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Brown afirma que esta é a principal lição que os europeus têm de tirar da invasão russa da Geórgia e da truculência com a qual Moscou vem ameaçando fechar a torneira dos gasodutos e oleodutos que abastecem vários países europeus. O premiê britânico clama que os europeus devem, urgentemente, encontrar fontes de energia alternativas – tradicionais ou não – para não ficar dependentes e indefesos frente ao urso russo. Urso – diga-se de passagem – que também tinha a sua agenda energética na invasão da Geórgia : o Kremlin procura derrubar o governo pró-ocidental de Tbilisi para poder por as patas na última rota de transporte do petróleo e gás do Mar Cáspio que ele ainda não controla. A idéia é ter o poder de estrangular a Europa quando ele quiser ameaçando cortar a energia. Não é por nada que a Cúpula extraordinária da União Européia para lidar com o caso georgiano pariu um comunicado ao mesmo tempo duro na retórica e cauteloso nas recomendações concretas.

A verdade é que os cheiros de guerra quente que vêm do Oriente Médio e de guerra fria que saem da Rússia, vão acelerar uma revisão geral das políticas energéticas no mundo, sobretudo nos grandes países consumidores, Estados Unidos, Europa e Japão, mas também China e Índia. Não há dúvida de que, nos próximos anos, vamos ter investimentos pesados nas fontes de energia alternativa (bio, solar, vento, hidro) e medidas mais drásticas para diminuir o consumo e conservar a energia. Também será privilegiada a exploração de petróleo e gás em regiões geopoliticamente mais estáveis e amigáveis, particularmente no Atlântico, africano e norte e sul-americano.

Para os Estados Unidos, o sonho de Barack Obama não é tão utópico : eles não importam petróleo da Rússia e só 10 por cento do consumo americano é coberto pelo petróleo do Golfo (que representa 15 por cento das importações). Com algumas economias aqui, alguma nova exploração de petróleo nacional ali, uma dose de etanol acolá e uma pitada de energias renováveis para acabar, o objetivo poderia ser alcançável. Sobretudo se isto for feito num clima de tensão com Moscou que permitiria à Casa Branca pedir sacrifícios à população. O problema é que a coisa não é tão simples para a Europa, profundamente dependente dos hidrocarbonetos russos e árabes, ou para a China, o Japão e a Índia que importam quase tudo do Golfo.

Esta situação abre imensas oportunidades para o Brasil, país democrático, estável e amigo. Com a sua produção de etanol e as reservas de petróleo do pré-sal, o Brasil pode ter um papel de destaque nesta grande reconversão das matrizes energéticas do mundo industrializado, sobretudo a européia. Chegou a hora de dar provas de credibilidade e previsibilidade em matéria de gestão do potencial energético brasileiro. É a condição sine qua non para ter cacife para negociar com a Europa uma verdadeira parceria para fornecimento de energia a longo prazo, com – evidentemente – polpudas contrapartidas para a economia brasileira. É este o verdadeiro pano de fundo do debate atual sobre o regime de exploração das reservas do pré-sal. “É a energia, estúpido!”

(Crônica de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos, de Paris)

 

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