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Análise/Chile

Para analista, alternância é melhor que caudilho eterno

Por Alfredo Valladão

Reportagem publicada em 19/01/2010 Última atualização 19/01/2010  13:30 TU

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, em discurso de vitória no dia 17 de janeiro de 2010.Foto: Reuters

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, em discurso de vitória no dia 17 de janeiro de 2010.
Foto: Reuters

Democracia tem que ser sinônimo de alternância no poder, segundo o cientista político Alfredo Valladão. Em sua crônica semanal, Valladão analisa a volta da direita ao poder no Chile:

"Nada mais perigoso do que partidos ou caudilhos que se perpetuam no mando. Depois de vinte anos de hegemonia, a esquerda e o centro-esquerda chilenos estavam completamente desgastados, sem idéias, atolados no fisiologismo. Estava na hora de mudar as caras e as perspectivas, mas sem pôr em causa as conquistas do período pós-Pinochet.

O Chile, pequeno país com poucos recursos, é hoje o país mais bem administrado da América Latina, com políticas macro-econômicas ortodoxas e um sistema regulatório abertamente favorável à iniciativa privada, acompanhados por políticas sociais relativamente eficientes e racionais. É claro que o país está longe de ser um paraíso terrestre e que vários problemas sérios persistem.

Mas os chilenos não querem saber de soluções populistas e autoritárias – e até a direita chilena aprendeu a lição, transformando-se num centro-direita democrático. Democracia estável, economia liberal, previsibilidade e programas sociais bem focados fizeram com que o Chile seja o primeiro país da América do Sul a aceitar integrar o clube dos ricos, sendo aceito na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Para a América Latina, as eleições presidenciais chilenas também trazem bons ventos. Primeiro porque reforça os sistemas democráticos na região  –  e oxalá as direitas latinas aprendam que não há  mais espaço para brucutus. Depois da famosa “guinada à esquerda” da última década, nada mais pernicioso para os equilíbrios democráticos do que sistemas sem uma direita moderna e moderada, capaz de administrar sem retrocessos sociais e de assumir o poder pelas urnas sem dramas autoritários. Oxalá também, que as esquerdas aprendam a se desvencilhar do seu viés autoritário e até totalitário para aceitar o jogo da alternância democrática.

Aliás, um governo de direita no Chile pode ser mais um contrapeso importante aos populismos “bolivarianos”. Um bloco de afinidades entre o Chile, o Peru, a Colômbia, Panamá, Costa Rica e agora Honduras (que decidiu sair da aliança bolivariana) pode constituir o antídoto, mais do que necessário, às provocações extremistas e às ingerências nos assuntos dos outros, do coronel Chávez e seus clientes na região.

O que não sabemos ainda é se a eleição chilena representa uma tendência de fundo ou não. Venezuela e Argentina, nas mãos de governos populistas irresponsáveis, estão praticamente falidas. Resta saber se as oposições, venezuelana e argentina, conseguirão conquistar a credibilidade da chilena para oferecer uma alternativa que possa convencer os votantes. Mas o grosso do pedaço é o Brasil. O Chile mostrou que não é nada fácil transferir votos de um presidente ultrapopular para um candidato.

Ora, para a América do Sul, um Brasil de Dilma não é a mesma coisa do que um Brasil de Serra. Mas não se sabe ainda se o petismo e suas alianças já estão desgastados a ponto de serem rechaçados pela maioria dos eleitores. Nem se os tucanos e suas alianças têm condições de mostrar credibilidade suficiente para ganhar o páreo. Comparando, a democracia chilena está bem lá na frente. "        

(Crônica de Alfredo Valladão, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris)

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