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Política Internacional

G20 foi fiel ao liberalismo

Reportagem publicada em 18/11/2008 Última atualização 18/11/2008 13:12 TU

Juntos, em Washington, no dia 15 de novembro, os 20 decidiram que o controle dos mercados continuará sendo uma responsabilidade intergovernamental.  Foto: Reuters

Juntos, em Washington, no dia 15 de novembro, os 20 decidiram que o controle dos mercados continuará sendo uma responsabilidade intergovernamental.
Foto: Reuters


A reunião do G-20, em Washington, foi a segunda vitória do capitalismo global sobre os capitalismos nacionais. A primeira aconteceu há poucas semanas atrás, quando os mercados globais afundaram as bolsas de valores e suspenderam os créditos até que os principais governos do planeta aceitassem coordenar uma resposta coletiva à crise – em vez de continuar tentando preservar as suas soberanas capacidades de ação. “À crise global, resposta global”, bradavam os mercados. Desta vez, a batalha ganha foi mais ideológica. Primeiro, porque também associou os governos dos grandes países emergentes à responsabilidade de administrar a crise. Segundo, porque no comunicado final, os vinte países – que representam quase 90% do PIB mundial – reconheceram que a globalização financeira e econômica deveria ser mantida e salva.

Monitorar e regulamentar melhor os instrumentos financeiros e a criatividade dos traders e banqueiros: sem dúvida. Mas ninguém nem pensou em por em causa os fundamentos do sistema financeiro global. E ainda por cima, o G-20 tomou claramente posição pela liberalização do comércio e contra qualquer forma de protecionismo, comercial e financeiro. Resposta global sim, mas para fortalecer e modernizar o mercado global. Nada de “refundar o capitalismo” como dizia o presidente francês Nicolas Sarkozy, nem de voltar atrás para o mundo das soberanias econômicas nacionais.


Mas se o capitalismo global ganhou duas batalhas, falta ainda muito para que ele ganhe a guerra. A criação de um colégio de supervisores, composto pelos reguladores dos Estados membros do G-20, para monitorar as 30 principais instituições financeiras do mundo é um passo à frente. Mas ter um órgão de regulação global, supranacional, nem pensar! Por enquanto, os Estados nacionais decidiram que tinham que cooperar mas, de jeito nenhum, se submeter a uma autoridade externa. Nem a idéia de dar mais poder ao Fundo Monetário Internacional vingou. Monitorar e fazer relatórios: tudo bem. Mas ter alguma responsabilidade executiva de controle: é não ! Todo o trabalho de pensar e criar novos instrumentos de monitoramento e controle dos mercados, decidido na reunião de Washington, vai continuar sendo um exercício intergovernamental, onde o peso geopolítico e econômico de cada um vai ser determinante para impor as próprias teses.

É justamente esta tensão entre um capitalismo global, que precisa de supervisão global, e a vontade dos Estados em manter as suas soberanias em matéria econômica e financeira que faz com que a reunião de Washington seja só o primeiro e pequeno passo numa estrada que ainda vai dar muito que andar. Não vai ser fácil encontrar consensos para definir os diversos instrumentos que possam melhorar o funcionamento dos mercados e que tenham condições de amenizar o impacto de futuras crises. Não só porque os problemas de um mercado financeiro extremamente sofisticado são também extremadamente complexos, mas porque ninguém sabe exatamente qual deveria ser o bom mix de controle e liberdade dos mercados.

 Pequena explicação. Não há progresso social sem criação de empregos, aumento de renda e possibilidades de consumo. Mas isto só é possível com crescimento econômico. Mas crescer significa investir e consumir. Quanto mais investimento e consumo, mais se cresce. Só que para que isto aconteça, é necessário crédito, farto e barato, e a sua outra face: o endividamento. Quanto mais crédito e dívidas, mais crescimento, mas também mais riscos. Ora, para cobrir estes riscos crescentes, os credores têm que conseguir rendimentos cada vez maiores e contar com avalistas cada vez mais poderosos. O avalista-mor, em última instância é o Estado. É ele que garante a confiança geral que permite que esta bicicleta do crédito continue funcionando. E é ele que, em contrapartida, define alguns critérios para regular os mercados. Se a regulação for demasiado forte e intrusiva, o crédito escasseia e encarece, solapando o crescimento econômico e o progresso social. Se o regulador for demasiado frouxo, a bicicleta financeira pode criar bolhas que estouram de maneira mais ou menos brutal. Não há receita mágica. Cada período da história econômica de um país ou do mundo necessita instrumentos diferentes e flexíveis.

A diferença, hoje, é que o mercado financeiro e a própria economia dita real estão globalizados, mas não existe governo global. Sem este tipo de governo – que aliás pode não ser tão desejável assim – é muito difícil ter um órgão supervisor global com verdadeiros poderes para garantir a implementação das regras. No final das contas, todos esperam que os mais poderosos acabem se entendendo para que possa existir o mínimo de regulação necessária para manter o sistema funcionando. Por isso, todo mundo, na verdade está esperando a posse de Barack Obama. A crise começou nos Estados Unidos e provavelmente será resolvida com a liderança americana.

(Crônica de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos, de Paris)

 

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