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Reportagem publicada em 22/10/2008 Última atualização 22/10/2008 19:48 TU
A China não tem como assumir o papel dos Estados Unidos e da Europa como motor do crescimento mundial.
Foto: Reuters
Qualquer que seja o sucesso na estabilização da crise financeira, vai ser difícil escapar de uma recessão global ou, no mínimo, de um período de baixo crescimento. Aqueles que ainda torcem para que a economia chinesa possa substituir os Estados Unidos e a Europa como motor do crescimento mundial, não olharam bem para os números. O mercado de consumo americano é dez vezes maior que o chinês. O europeu é oito vezes maior. Para compensar cada caída de 1% do consumo euro-americano, a China deveria aumentar o consumo interno de 18%. Se os números forem de mais ou menos 3 ou 4%, isto significa um aumento da capacidade de consumo na China de mais de 50%. Uma façanha absolutamente impossível para os próximos dois ou três anos.
A desaceleração da economia mundial pode ser violenta ou mais manejável. Mas nos dois casos já estamos vislumbrando algumas consequências desagradáveis. A primeira atinge em cheio os países - emergentes ou pobres - que dependem do comércio de matérias-primas. Os preços do minério, produtos agrícolas e dos hidrocarbonetos despencaram. Isto é uma boa notícia para os países dependentes de importação destes produtos, mas os que exportam vão sofrer. Países como a Rússia, e sobretudo a Venezuela, cujas receitas estão completamente atreladas ao petróleo, vão ter que apertar o cinto de maneira brutal, com todas as consequências para as suas políticas internas e externas que isto acarreta. Os países latino-americanos, inclusive o Brasil, que também são grandes produtores de matérias-primas vão ter que engolir um ajuste pesado. O que também será o caso da Austrália e de muitos países africanos. Nada disto vai ajudar a sair mais depressa da recessão global.
Outra grande vítima da crise será, sem dúvida, a própria idéia de desenvolvimento sustentável. Quando a economia do planeta estava bombeando e que todo mundo começou a ficar com medo da escassez de insumos básicos – não só matérias-primas, mas também água, ar puro e clima estável – ficava cada vez mais evidente que a festa não era sustentável. Que sem um mínimo de disciplina coletiva mundial o globo terrestre e sua população iam bater de cara na parede. Não havia água, ar, energia, agricultura, minérios ou atmosfera que agüentasse a velocidade do crescimento econômico. A necessidade de produção e consumo mais limpos e ecologicamente corretos começava a se impor, apesar das reticências dos países emergentes que acabavam de entrar na festa do crescimento.
Com a recessão a caminho e a forte queda dos preços e da demanda de matérias-primas, energia e outros insumos, já estão aparecendo vozes para dizer que falar de desenvolvimento sustentável num período de crise econômica como este, era simplesmente dar um tiro no pé – além de ser politicamente insustentável. Como convencer os milhões de pessoas que estão perdendo os empregos a moderar e a enquadrar o crescimento econômico ? O presidente do Conselho italiano, Sílvio Berlusconi, já avisou que a Europa deveria deixar para mais tarde a idéia de fixar tetos de produção de carbono para não atrapalhar a competitividade das empresas. Por outro lado, a queda brusca dos preços do petróleo pode tirar o interesse econômico em desenvolver energias alternativas, inclusive atrapalhando fortemente o desenvolvimento do etanol como combustível global.
É claro que a mudança climática não espera e que depois de algum tempo de recessão, o crescimento econômico vai retomar, e que as grandes massas de excluídos do planeta vão querer consumir e se enriquecer, nada mais justo. A escassez e a falta de insumos básicos vai voltar. Mas é possível que tenhamos perdido um tempo precioso, talvez irreversível para garantir a boa saúde ecológica do planeta Terra. Esta não é a menor das consequências da farra dos subprimes.
(Crônica de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos, de Paris)
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