Busca

/ languages

Choisir langue
 

Política Internacional

Internet é a nova arma do poder

Reportagem publicada em 11/11/2008 Última atualização 11/11/2008 17:09 TU

O site de Barack Obama propunha que os blogueiros criassem páginas  para ajudar a recolher dinheiro para a campanha.   Foto: site Barack Obama

O site de Barack Obama propunha que os blogueiros criassem páginas para ajudar a recolher dinheiro para a campanha.
Foto: site Barack Obama


A eleição de Barack Obama é antes de tudo uma extraordinária revalorização da política. Nas últimas décadas, a política e os políticos tinham uma reputação horrorosa na opinião pública. Incompetentes, corruptos, perdulários e até perigosos são alguns dos adjetivos que são pendurados nos políticos e nos partidos no mundo inteiro. E não é só nas ditaduras, mas também nas democracias mais antigas, na Europa, na América Latina ou nos Estados Unidos. A dupla Bush-Cheney alimentou de maneira brutal este sentimento de ceticismo geral com relação aos políticos. Mas de repente apareceu o fenômeno Obama, mobilizando boa parte da juventude americana, mas também milhões de outros concidadãos entusiasmados.

E a Obamania não é só americana. Populações no mundo inteiro começaram a torcer pelo candidato democrata. Como se, do dia para a noite, todo o mundo quisesse acreditar que um político pudesse mudar as coisas, que a política podia ser importante para construir um mundo melhor. Obama chega ao poder com um capital de confiança inédito suscitando expectativas e esperanças desmesuradas. Um dos grandes problemas que terá de enfrentar o primeiro mulato a chegar à presidência da maior potência do mundo vai ser de administrar a inevitável decepção geral. Obama pode até se revelar um grande presidente, como Roosevelt ou Kennedy, mas é óbvio que ele não vai transformar o mundo num paraíso terrestre com um simples toque de varinha mágica.

Mas não é só no quesito da imagem e da esperança que o presidente-eleito foi inovador. Talvez mais importante ainda foi a utilização que ele fez dos meios de comunicação mais modernos e, particularmente, da Internet. Franklin Roosevelt havia consolidado o seu poder utilizando de maneira extremamente inteligente a grande invenção da sua época: o rádio. Através do rádio, Roosevelt podia, pela primeira vez na história americana, falar diretamente para toda a população do país, por cima dos partidos e do Congresso. Kennedy, foi o primeiro a entender a força avassaladora da televisão, onde a imagem vinha dar corpo à voz e criava um sentimento de intimidade com milhões de telespectadores. Só que nestes dois casos, a comunicação era sempre de cima para baixo. Tratava-se de uma operação de sedução de cidadãos-eleitores passivos.

A interatividade da Internet está mudando completamente o paradigma da comunicação política. Através da rede, Obama conseguiu mobilizar mais de 10 milhões de partidários voluntários, trabalhando em contato constante com o comando da campanha, dando idéias, organizando reuniões, telefonando para os eleitores potenciais, inventando formas de ação de maneira não diretiva. Com a Internet, Obama conseguiu levantar muito mais fundos do que o seu rival McCain, fazendo uma das campanhas mais caras da história do país.

Mas esta primeira verdadeira campanha política pós-moderna não vai ficar por aí. Obama já montou um site especial para continuar mantendo esta relação direta com a população americana. A idéia é continuar a recolher sugestões para integrá-las nos programas da administração e ter um poderoso instrumento para mobilizar os militantes obamistas em apoio às políticas do futuro governo. Com este tipo de utilização da rede, a administração Obama vai poder, por exemplo, lançar campanhas especiais nos redutos eleitorais de representantes ou senadores reticentes em aprovar projetos do Executivo, ou então colocar anúncios pagos ao lado de artigos de jornal comentando uma faceta ou outra da ação governamental. Tudo isto pode se transformar num extraordinário instrumento de poder para pressionar o Congresso e os políticos em geral. Um instrumento muito mais poderoso do que o rádio ou a televisão, justamente porque se trata de uma mídia interativa onde a comunicação também vem de baixo para cima, criando um sentimento de participação muito forte.

O problema é que é sempre perigoso quando um dirigente tem um enorme poder de passar por cima das instituções e das representações intermediárias. O populismo nunca está longe e se Obama, pode, com sorte, usar este instrumento de maneira decente, outros podem não ter tantos escrúpulos. Nada mais perigoso do que um líder político com tanto poder na mão. O único consolo é que a própria interatividade da Internet pode ser um bom antídoto contra as tentações autoritárias. A rede pode servir para apoiar um político, mas se este político decepcionar, ela também pode ser um poderoso instrumento de oposição. Obama vai ter que tomar cuidado para que este novo animal midiático que o levou ao poder não acabe devorando-o.

(Crônica de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos, de Paris)

 

Crônicas

Análise/Chile

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, em discurso de vitória no dia 17 de janeiro de 2010.Foto: Reuters

Para analista, alternância é melhor que caudilho eterno

19/01/2010 13:30 TU

Política internacional

Costa do Sauipe.Foto: Flickr

Cúpulas latino-americanas demais

Excesso de encontros esconde falta de liderança, na opinião de Alfredo Valladão, cronista de política internacional da RFI

16/06/2009 09:30 TU

Política Internacional

  Foto: Reuters

G20 foi fiel ao liberalismo

«Ninguém sabe qual o bom mix de controle e liberdade dos mercados», escreve o cronista Alfredo Valladão

05/12/2008 18:01 TU

Política Internacional

As principais vítimas da crise ?

Os países que exportam matérias-primas e a idéia do desenvolvimento sustentável, responde Alfredo Valladão

22/10/2008 19:41 TU

Política Internacional

  Foto: Reuters

Herança política de Mandela ameaçada

Na África do Sul, a frente partidária ANC resvala para o clientelismo, escreve o cronista Alfredo Valladão após demissão do presidente Mbeki

24/09/2008 17:06 TU

Política Internacional

A integridade territorial está em jogo

Saiba porque o cronista Alfredo Valladão acha necessário evitar o precedente perigoso da desintegração da Bolívia

16/09/2008 19:09 TU

Política Internacional

Para o cronista Alfredo Valladão, as manobras navais russo-venezuelanas importam a guerra fria.  Foto: Reuters

No Caribe a supremacia ainda é americana

Para o cronista Alfredo Valladão, as manobras navais russo-venezuelanas importam a guerra fria

09/09/2008 17:23 TU

Política Internacional

  Foto: FAO

Energia: único tema na agenda do planeta

Alfredo Valladão escreve sobre as oportunidades para o Brasil

03/09/2008 18:43 TU

Política Internacional

«Ser súdito de Moscou nunca foi natural»

O cronista Alfredo Valladão dá sua versão dos conflitos no Cáucaso

29/08/2008 15:07 TU